terça-feira, maio 03, 2011

E o mundo ainda gira, na mesma velocidade.


Os joelhos tocavam o chão gélido, de modo que o frio cortava-lhe nos ossos. O belo par de olhos contemplava o cadáver estendido. Ele contemplava os olhos verdes esbugalhados com a mesma ternura, a face mergulhada em uma espécie de pó mortal, era a própria morte estampada, e por alguma razão ele ainda a admirava, e via a mesma beleza. Os dedos percorriam toda a face dela, e contornavam os lábios pintados de roxo, com tons avermelhados escarlate. Sentia uma sensação desconhecida. As forças se perderam em alguma parte. A voz sumira. Agarrou-se ao corpo, frio. As lágrimas banharam. A dor. O coração partia. Lentamente. Uma faca, entrando e saindo do peito, vagarosamente. A pior das dores. O ser desfalecia. O mundo não girava mais. Os olhos nada viam, agora. A escuridão Sentia como se tivesse com as mãos atadas. A multidão se formava ao redor. Ele queria expulsá-los dali. Queria ficar a sós. Sumir, agarrado ao corpo da amada. Por que ela não ficara? Por que não esperara mais alguns segundos? Ah, se ele não tivesse voltado o rosto para ela. Se ele não a tivesse beijado. Mas a rua estava deserta, não estava? Ele se sentia culpado.   Um ser, masculino, caminhou com as pernas entrelaçadas, cambaleando. Atônito. Proferiu palavras que não cabiam na situação. Dançou sobre os próprios pés. Agachou-se no chão. Olhou, sem entender o casal. Agora morto. Ele matara, mas não se culpava. Não se lembrava. Não sabia onde estava. Dormiu, impregnando o cheiro de álcool. Ela ainda usava o vestido branco, o mesmo da mãe. A face banhada em sangue e lágrimas, do amor de sua vida. E ele, ainda balbuciava, e repetia os votos. As lágrimas, corriam, sem direção. Desfalecendo, colou seu rosto ao dela. Beijou-a. Manchou os lábios de sangue. O penteado tinha alguns fios rebeldes. A multidão aos poucos se afastava, com a mão levada a boca. O mundo ainda girava, ao mesmo tempo que a dor mortal latejava.

4 comentários:

  1. como você já comentou em um dos meus posts uma vez, digo a você a mesma coisa agora: não tem ideia de como este teu post ficou lindo, não tem ideia mesmo. eu primeiro li o post debaixo sobre a garota que nasceu na época errada e me senti aquela garota, parece que me descreveu, de verdade de uma maneira tão simples, delicada e ao mesmo tempo tão real. eu adoro tudo o que escreves porque parece que escreves com o coração. um beijo

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  2. Não sei se já disse isso aqui, mas os textos que me fazem visualisar, montar o cenário, lentamente, e rico em detalhes na minha mente, ganham um lugar especial no meu coração. Se tornam textos mais reais, mais próximos de mim. E esse post, em especial, me trouxe a tristeza e melancolia que o personagem sentia. Belíssimo post, belíssimo mesmo!

    *Obrigada pelo comentário lá no blog! Volte sempre, viu? E lembre-se: é sempre possível fazer o melhor para nós mesmos, desde que não haja desistência de ser feliz!

    Abraços!

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  3. Obrigado !
    E mais uma vez parabens, é mais um texto magnifico (:
    beijinho.

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  4. Ah meu Deus. Obrigada, muitissimo obrigada gente.
    Beeijos, e voltem sempre.

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