quinta-feira, março 17, 2011

Eu, assassina.

Arrasto-me, esfrego meus pés ao chão, o barulho penetra-me nos ossos. Sinto a adrenalina esvaindo-se pelos poros, juntamente com o suor, que cola a blusa branca ao meu corpo, escorre pelas pontas dos dedos.Os olhos pesados, quase colados, os lábios mudos e perdidos. Exteriormente.Ah, ninguém pudera ver-me interiormente.O sangue bailava pelas veias azuis ou verdes, mergulhando-se e impregnando a vermelhidão por todos os dedos, ao longo do corpo.O riso tocava ao fundo, a um som de vitória que tinia, uma melodia orgulhosa.Sentia meu ser vivo, com o seio palpitando alegria. Caminhava entre os órgãos as lembranças, o momento em que apertei o gatilho, e quando enterrei a faca em meio ao peito numeroso. Os meus olhos brilhavam, a medida que os dela se fechavam, cansados, e as pálpebras iam se colando. Ah, o meu riso iluminou a escuridão, e o último sopro de ar saiu pelos lábios mudos, e enfeitado com as quatro operações. E então, desmontou-se totalmente. Jogados foram ao chão, números e mais números, uns empilhados sobre os outros, depois vieram os sinais, misturados com os inteiros, os reais, e tantos outros.Em meio a tudo isso perdeu-se o ciclo trigonométrico, com todos os senhores Senos, Cossenos e amante deles, senhora Tangente, e os respectivos filhos, ângulos em suas respectivas moradias, bairros, ou melhor quadrantes. Como a ordinária, e velha rabugenta Matemática, conseguia guardar tanta coisa? O fato é guardava, agora não passa de um amontoado de números perdidos, e outras coisas insignificantes.
Diante do tribunal, aguardo minha sentença. Sem arrependimento algum.Os meus olhos abrilhantam uma maldade, do bem. Afinal, fora um bem, comum. Perdoem-me caros entes queridos dessa antiga assombração,amantes compulsivos de números, e suas contas incompreensíveis, que antes, durante muitos e muitos dias queimaram meus crânio, perfumando meus fios de cabelos com cheiro de queimado.Que arrancou meu sono, com os olhos abertos, e imaginando como conseguiria manipular minha atenção, e trapacear minha nota.Não importa mais, eu consegui. Assassinei a matemática. Eternamente morta, enterrada em algum lugar. Não muito longe, mas onde as palavras estão vestidas de princesas, e a Língua Portuguesa é rainha, e vive aos cuidados de escravas negras, a ortografia e a gramática. Lá está a velha Matemática, morta,coberta de flores vermelhas,e brancas pintadas com o marrom da terra. O cadáver branco e gélido, é motivo de riso para todos. Inclusive à mim.

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